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650 da Constituição da Vila assinalados no Cadaval

650 da Constituição da Vila assinalados no Cadaval

O Cadaval assinalou, a 1 de dezembro, os 650 anos da constituição da vila, comemoração que incluiu uma recriação histórica e uma palestra sobre esse episódio insigne da história local. Contemplou também uma inédita mostra do livro original onde está publicada a Carta de Constituição da Vila, patente na Biblioteca Municipal até dia 17. Visite!

A palestra “O ano de 1371 no Cadaval” marcou o arranque do dia comemorativo dos 650 anos da constituição da vila do Cadaval, por carta régia concedida por D. Fernando naquele ano. Realizado na Biblioteca Municipal, o encontro contou com a presença e intervenção de Manuela Santos Silva, autora do livro “O Primeiro concelho do Cadaval (1371-1496) ”, editado pelo Município em 2004 e a reeditar durante o próximo ano de 2022. 

 

Manuela Santos Silva, licenciada em História, é mestre e doutorada em História Medieval. O interesse pela história da Idade Média da região Oeste vem desde o início dos seus estudos. É docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e diretora do mestrado de História.

 

Coube a Fátima Paz, vice-presidente da Câmara, abrir a conferência, tendo assinalado o facto de, até 25 de abril de 1974, ser o dia da fundação do Concelho (1 de dezembro) a data comemorada pelos cadavalenses. «Após o 25 de Abril, o Cadaval passou a comemorar, a 13 de janeiro, a restauração do Concelho, que ocorreu no ano de 1898», disse a também vereadora da Cultura. «São duas datas importantes da nossa história que merecem ser revisitadas.»

 

«Com esta iniciativa, o Município pretende promover o conhecimento da história do Concelho, mas também da sua cultura, costumes e tradições, que são o nosso espólio enquanto comunidade», declarou Fátima Paz.

 

«Quero aqui deixar um agradecimento à Direção-Geral dos Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas pela cedência do Livro 1 da Chancelaria do Rei D. Fernando, que perpetua, até aos dias de hoje, a carta original da constituição da vila do Cadaval, um documento com mais de seis séculos», acrescentou a edil.

 

As origens de um concelho senhorial

 

Na introdução da conferência, Manuela Santos Silva revelou ter posto a tónica do encontro na documentação que foi emanada no ano de 1371 relativamente ao Cadaval, «e fazer deste momento uma tentativa de interpretação do passado».

 

Para a especialista em História Medieval, as cartas que criam o concelho do Cadaval tornam-no um concelho privado, situação que se irá manter durante grande parte da sua história.

 

«Em 1371, o Cadaval deixa de pertencer ao concelho de Óbidos, tornando-se um concelho autónomo em duas fases: em 10 de julho de 1371, através das freguesias do Peral e Cercal, e a 1 de dezembro de 1371, com as freguesias do Cadaval, Peral, Cercal, Vilar e Figueiros», explica Manuela Silva. «Uma vez independente de Óbidos, é oferecido ao Conde de Barcelos, D. João Afonso Telo.»

 

«Continuará a ser um concelho privado, exceto em períodos de crise, em que volta a obedecer ao concelho de Óbidos, por exemplo em 1383-85», assinala a palestrante.

 

«Esta é uma data que se deve sem dúvida comemorar, porque o Cadaval torna-se de facto um concelho autónomo e tem um destino individual, não muito vulgar no reino de Portugal.»

 

«O Cadaval merece uma monografia que conte tudo aquilo que de facto passou o concelho, quer nas mãos do rei, quer nas mãos dos vários senhores que o constituíram até à formação de uma casa senhorial verdadeiramente autónoma», notou.
 
 

 

Constituição da vila: da exposição à recriação alusivas

 

De seguida, teve lugar, também na Biblioteca Municipal, a abertura oficial da mostra do Livro 1 da Chancelaria do Rei D. Fernando, onde consta a Carta de Constituição da Vila original, um documento com mais de seis séculos, cedido pela Direção-Geral dos Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas e provindo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa).

 

Uma oportunidade única de ver de perto um documento basilar para a História do Concelho, que pode ainda ser visitado, até dia 17, no horário habitual da Biblioteca Municipal, de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 18h00, e ao sábado, das 10h00 às 13h00.

 

Da parte da tarde, aconteceu um momento de recriação histórica, cujo desfile teve início junto ao edifício da biblioteca e museu municipais, seguindo depois pela Rua 13 de Janeiro até à Praça da República, onde se deu a recriação de todo o momento histórico de constituição da vila cadavalense, sucedido há 650 atrás.

 

Contexto histórico da constituição da vila do Cadaval

 

 
Em 1371, pelo desmembramento do concelho de Óbidos, do qual o Cadaval fazia parte, era conferido «ao território a possibilidade de se tornar um espaço livre e isento de todo o senhorio, jurisdição e sujeição ao antigo concelho (Óbidos) e às suas autoridades», tal como é descrito no livro “O primeiro concelho do Cadaval” (2004) de autoria de Manuela Santos Silva.

 

 
Sem este acontecimento, a História do Cadaval não seria como a conhecemos. Outras datas importam ao Concelho, mas esta é, efetivamente, aquela que se traduz no início da História do Concelho do Cadaval.

 

 
Para a História ser completa, há que referir que, num primeiro momento, o Rei D. Fernando concede Carta de Constituição da Vila do Peral, a 17 de julho de 1371, na mesma sequência do desmembramento do concelho de Óbidos.

 

 
À vila do Peral, foram então dadas «todas as aldeias, casais, quintas, herdades e lugares da freguesia de São Lourenço do Peral, a aldeia do Cercal e os locais povoados que se integrassem na sua freguesia», refere a supracitada obra.

 

Cerca de cinco meses depois, o mesmo rei eleva a vila do Cadaval a sede de município, através da carta que, este ano, comemora os seus 650 anos, e na qual o Peral é também anexado, bem como a aldeia do Cercal e os povoados circundantes.

 

 
De referir ainda que a doação do termo do Cadaval (e do Peral, anteriormente) foi feita a D. João Afonso Telo, 4.º Conde de Barcelos, um fiel oficial e amigo do Rei D. Fernando «como agradecimento pelos feitos nas guerras travadas. Simultaneamente, e como D. Fernando se preparava para desposar a sobrinha deste seu conselheiro (…) interessava-lhe, por isso, reforçar os laços já estreitos que possuía com esta família», refere também Manuela Silva no mencionado livro.

 

SCRP | CMC

10 Dezembro 2021